quarta-feira, 11 de julho de 2007

Como Reconhecer um Local Planeado

Como Reconhecer um Local Planeado

Os efeitos do planeamento na paisagem deviam ser óbvios. Quase todos os desenvolvimentos urbanos no Norte da América e na Europa, desde aproximadamente 1950, foram sujeitos a um controle de planeamento; portanto, todo o local novo é quase de certeza planeado. No entanto, as coisas não são tão simples. Há aqueles que, como o defensor do meio ambiente Paul Ehrlich, desconhecendo o recente planeamento urbano, observam a disseminação dos empreendimentos urbanos ou os traçados das vias rápidas e os criticavam por serem caóticos e não submetidos a qualquer plano. Estas criticas são simplesmente errôneas; estes espaços são planeados com rigor e Ehrlich esta a expressar o seu desagrado pessoal por aquilo que foi incapaz de reconhecer como um desenvolvimento planeado. Mas o seu erro tem alguma justificação, porque o testemunho evidente do planeamento é, por vezes, tão obscuro que escapa mesmo à observação mais atenta. Consideremos SLOIP. SLOIP é um acrônimo expressivo de Lionel Brett para Spaces Left Over In Planning (Espaços esquecidos no planeamento), geralmente campos áridos e lotes em mau estado de conservação, a espera de desnvolvimento futuro. Nas novas cidades, por exemplo, o desenvolvimento decorre de fases, tendo o terreno de ficar desocupado ate o crescimento populacional atingir as previsões. Em 1981, o centro da nova cidade de Milton Keynes ainda estava parcialmente cercado por aquilo que pareciam ser terrenos agrícolas abandonados, mas que figuram nos planos como locais reservados. Eram autênticos SLOIP.
Mesmo em áreas onde se construiu, pode haver resultados desastrosos. Se nos colocarmos no cruzamento de duas artérias e contemplarmos os fios, os postes, a variedade de sinais, os espaços, os bocados de vegetação, os edifícios, todos aparentemente reunidos numa ordem que não podia ser pior, mesmo que resultasse de um projeto deliberado, é de fato difícil acreditar que alguma coisa tenha sido planeada. No entanto, pelo menos a disposição, as utilizações do solo e todos os padrões viários terão sido sujeitos a aprovação de planeamento. Parece que a maioria dos esforços de planeamento para criar ordem esta concentrada no coração das zonas de utilização do solo. Quando estas zonas se encontram, geralmente ao longo das estradas, as coisas parecem escapar ao controle, de forma que todo o cenário acaba por ser, de alguma forma, menos do que a soma das suas partes.
Exemplos mais concretos do planeamento podem encontrar-se em qualquer nova paisagem com linhas retas, plantas geométricas, ruas curvilíneas, tudo disposto em filas, desde os bancos dos passeios aos blocos de apartamentos, e tudo o que tenha arestas simples e linhas paralelas, com as curvas e os passeios.
Nem a natureza nem a humanidade espontânea tem o habito de organizar os seus bens em filas ordenadas. É claro que os construtores georgianos e do Renascimento também utilizavam formas geométricas na definição das cidades, como em Edimburgo, Karlsruhe e Bath, mas isto era feito geralmente com grande segurança e sentido da proporção. As geometrias das modernas paisagens planeadas são insatisfatórias porque se prendem com as fracas proporções e a decoração inconseqüente; alguns ordenamentos são talvez demasiado óbvios, outro tem formas incompletas e imbricadas, com linhas de perspectiva quebradas ou desfocadas. As geometrias indefinidas são uma clara indicação dos meios ambientes planificados modernos.Finalmente, existe a segregação de atividades: nada de sobreposições ou excessos, mistura ou confusão nas periferias. Isto é uma prova da obsessão com a ordem que esta presente em todo o planeamento moderno, embora talvez não tanto agora como antes de 1975. Observa-se praticamente qualquer lugar planeado, escreveu Jane Jacobs (1961, p. 447), referindo-se concretamente a um pequeno parque junto ao rio, que sofreu melhoramentos: um tipo de mentalidade demasiado familiar está obviamente envolvido nisto, uma mentalidade que vê apenas desordem onde existe uma ordem intricada e singular: o mesmo tipo de mentalidade que só vê desordem na vida das ruas da cidade e anseia por eliminá-la, uniformizá-la, torná-la suburbana. Todo o processo de planeamento, diz Jacobs, consiste em tentar obter seleções descontaminadas. Poderá, efetivamente, estar a descrever um tipo comum do moderno pensamento racionalista, mas não há duvida de que este tem estado excepcionalmente bem representado no planeamento. Podem encontrar-se testemunhos na maioria das novas paisagens urbanas: as artérias que dividem zonas de negócios, industriais e residenciais, as vedações que dividem as zonas de negócios, industriais e residenciais, as vedações que dividem as zonas de casas unifamiliares dos complexos de apartamentos e os apartamentos armazéns, os espaços neutros nos recintos de comercio, entre grupos de bancos e canteiros de flores. Cada atividade tem um território atribuído e as linhas de ocupação do solo nos mapas de zonificação dos gabinetes de planeamento foram fielmente reproduzidas nas paisagens, como barreiras ou espaços neutros. O resultado global é uma paisagem urbana caracterizada sobretudo pelo seu perfeito trabalho de composição de funções, onde há lugar para tudo e tudo tem lugar definido. Dificilmente poderá haver uma melhor síntese disto do que a que Alison Ravetz faz; denomina-a “a cidade segregada”.

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